22/10/2009

O E.T., meu Deus, era um homem! (Distrito 9)



Uma raça de E.Ts. em um país africano.

Um filme de Holywood.

Efeitos especiais bem trabalhados.

Cenas de ação bem conduzidas, câmera nervosa.

Sangue e gosmas pra todo lado.

É o novo Blockbuster que estréia nos cinemas brasileiros!

Errado.

Apesar de ter tudo isso que é ingrediente de mais um filme de ficção da área E.T contra humanos, o novo filme de que venho tratar aqui não é nada disso. Na verdade, nenhum outro filme de ficção até hoje se propôs a tantos caminhos arriscados e chegou perto do que Distrito 9, nos cinemas da cidade, conseguiu.

O filme pode ser visto, ou definido, fragilmente como um Carandiru misturado com um Cidade de Deus -Tropa de Elite e isso tudo ainda misturado com um Independence Day - Guerra dos Mundos - Planeta dos Macacos que, incrivelmente, contrariando todos os prognósticos do que pudesse vir a ser um filme assim, tão díspar e singular, deu certo.

A história é “singular”, um grupo de alienígenas chega a Terra, e aqui ficam presos por problemas técnicos. Não tendo para onde ir e não se adaptando as condições sociais locais, criam um certo atrito com a população "humana" e são guiados para um “assentamento” especial, chamado Distrito 9. Tudo isso se passa em Johannesburg.

Alguma relação com o Apartheid?

Alguma relação com a disputa por um lugar próprio, um lugar-nação?

Alguma relação com os excluídos das periferias?

Uma obra de ficção fantástica, um dos melhores filmes de ficção dos últimos anos. Contrariando tudo, não são os E.Ts. os vilões dessa vez. Não é o fim do mundo que está em jogo. É o fim de nossa sociedade, como sistema de castas, onde os excluídos, as minorias, os pobres, os miseráveis não são humanos, não são gente, pelo menos não como nós somos gente! São um outro tipo de gente diferente, por isso nos permitimos aceitar que eles, esse outro tipo de gente, sejam tratados como tal, aceitamos que morram de fome e na miséria, porque eles são assim, diferentes coitados. Aceitamos que se matem, briguem por comida, armas, poder. Aceitamos que sejam mortos por nossas milícias, que nos protegem deles. Simplesmente porque eles não tem valor. Não o valor que temos, eles tem um valorzinho assim, pequeno, pouco menos que um cachorro de estimação, que defendemos quando mal tratado, pobre animal irracional e inocente.

Para eles não estendemos a nossa ética.

São um mal com o qual temos que conviver.

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Poema: O Bicho, Manuel Bandeira.




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