19/09/2009

Molotov, primeiro dia(primeira noite).


Era pra ter sido diferente. Pra ser curto, não gostei do Molotov neste ano. Já digo logo também que não pude assistir à primeira atração Jam da Silva, infelizmente. Já não tinha muitas esperanças de ver um show fantástico, mas a gente sempre tem uma esperança boa e, como no ano passado houve o show fantástico do Owen Pallet, eu tinha em mente que talvez, houvesse algo semelhante. É certo que ano passado além de Pallet, tinha também Marcelo Camelo e o Hurtmold que se mostraram uma boa atração, não só pelo apelo de público como muitos argumentavam. Este ano, o Molotov correu atrás para trazer Beirut. A banda que primeiramente havia assinado com o PercPan para alguns shows no Brasil tinha ficado conhecida para o grande público, pela música incluída na minisérie Capitú. Era o grande nome para agregar gente ao evento e como estratégia de marketing, funcionou bem. Os ingressos já estavam esgotados na terça feira anterior, em todas as lojas que os disponibilizavam. Eu fui com a esperança de que o Beirut fosse algo surpreendente assim como foi Pallet,um dos colaboradores da banda inclusive, ano passado. Alternando canções do Flying Cup (um muito bom álbum, diga-se de passagem) com outras do Gulag Orkestra e Eps, a Banda sempre teve o público do seu lado, desde o instante em que chegou no palco. Entretanto parecia que o som dos Beirut estava preso nas possibilidades dos 5 integrantes. Não sei com quantos integrantes costuma se apresentar a banda, mas em comparação com o som do disco, se percebia que a banda poderia soar muito melhor, a formação foi “enxugada” até dar no que se viu ontem. Só 5 no palco.

Mesmo assim, empolgaram os que ali foram para vê-los. Em alguns momentos o teatro parecia mais um show de rock, todos em pé. A organização do evento foi fraca, apesar de já se saber do problema na apresentação de Salvador quando o público “invadiu” o palco, convidado por Zach Condon, vocalista (por que os músicos extrangeiros acham que o brasileiro têm discernimento quanto dizem “cantem aqui conosco”?).

No final, só posso argumentar que para um ouvinte mais crítico, que queria acompanhar uma apresentação fidedigna ao álbum, não foi o que ocorreu. Por outro lado, para aquele que só queria interagir com a banda, gritar, exorcizar seus demônios, pular, enfim, entregar-se a catarse de emoções todas do encontro com os ídolos, o evento foi justo o que poderia ter acontecido de melhor. Para o Beirut, acho que Recife foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Nenhum outro lugar os teria tido como uma atração principal tão estimada. É bem provável que retornem outras vezes à cidade, mesmo sabendo que a organização de eventos para o nordeste é sempre mais dificultosa, creio que esta foi a sua melhor interação com os fãs no Brasil. Receberam até uma rosa de uma garota que subiu ao palco no final da apresentação e, ao seu pedido, Zach retornou e tocou Forks and Knives, sozinho, com seu ukelele.

Outros contratempos tomaram conta do Molotov, a organização estava péssima, tudo sugeria que venderam mais ingressos que a capacidade do teatro. Muita gente, na verdade um mar de gente, estava de pé, os lugares ocupados, gente se sentando desde à metade dos degraus que dão acesso às fileiras até o palco. Pra completar, os organizadores das filas foram muito incompetentes e infelizes. Não souberam administrar as entradas e saídas do teatro. Enfim, estava um pandemônio. Um evento que quer se consolidar não pode deixar isso acontecer com o simples pretexto de que o povo é desorganizado. A platéia era mal educada, todo mundo conversava em voz alta durante a apresentação de Tié e Thiago Pethit, que por sinal, não disseram a que vieram (como sempre acontece com atrações suecas, desta vez a atração foi brasileira), soaram despreparados para o tamanho do festival, iniciaram perdidos, pisando em ovos, deslocados, sem saber como interagir e terminaram pior ainda. De uma maneira até melancólica, não se sabia nem se havia acabado ou não sua apresentação. Quando deixaram o palco era lamentável ver a quantidade de gente jogando no celular, conversando, dormindo, enfim.

O auge da desorganização ocorreu durante o show de Sebastién Tellier. Quem havia saído do teatro durante a apresentação fraca de Tié e Pethit, foi bloqueado em um dado momento na hora de entrar de volta por motivo este nunca esclarecido. Filas desorganizadas se formaram, e a organização mais uma vez perdida. Após 15 minutos esperando, fui perguntar aos seguranças o que inferno estava acontecendo, “estamos obedecendo à organização”. Que organização, eu perguntaria. Fui atrás de alguém com aquelas camisas pretas Molotov, “o que há minha amiga? Ninguém entra?”. A garota me explica que houve um problema e forçaram a entrada, estariam tentando se organizar novamente para então liberar o público. O que eu tenho haver com essa incompetência de vocês? Porque preciso esperar e, sobretudo porque a demora toda com a apresentação acontecendo lá dentro? “A área superior está livre”, disse. Não estava! E era muito mais difícil o acesso superior que o inferior. Tome tempo a passar e nada, as pessoas entravam de conta gotas, quando entravam. Mudamos de fila e ficamos aguardando o acesso superior, foi quando as filas inferiores começaram a adentrar o teatro com tudo, gente com latinha de cerveja na mão, comida, cigarros, etc. Não perdi tempo e saí da fila superior, corri e pulei o corrimão lateral para poder entrar. Alguns amigos conseguiram, outros não. Uma vergonha! Você vai ao evento na companhia dos amigos e fica se separando devido ao péssimo trabalho dos organizadores. Quando adentramos, depois de tanto tempo fora, ainda tivemos que brigar lá dentro por um lugar, não digo nem decente, mas que de onde pelo menos se pudesse ver direito o palco e se sentar. Sem cadeiras, sem acesso aos amigos, sentamo-nos no chão. Nos degraus. E aí vimos um sujeito deitado no palco, tirando um som com a guitarra. Um som muito bom por sinal. Logo após trocou a guitarra pelo piano de calda e fez uma apresentação de intensidade, tocou La Ritournelle. Pronto, estávamos contagiados e capturados pela figura marcante de Tellier. Quando nos animamos de verdade, pela primeira vez na noite, o francês solta um agradecimento e sai do palco. Fim da apresentação. Coquetel Molotov que me perdoe, mas que grande incompetência! Eu deveria processar os organizadores, mas sei o quanto essas coisas são custosas e complicadas. Tamanha era a falta de respeito com o público, se perdia talvez a melhor apresentação da noite. Quem pode assitir tem condições de falar melhor. Mais uma demonstração de amadorismo do festival. É triste, inclusive, que poucas pessoas que cobrem esses eventos, com o suposto profissionalismo, mencionarão essas coisas.

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